segunda-feira, 4 de agosto de 2008

SEDUÇÃO PÓSTUMA



Deitada no chão, ela não se movia. Eles a rodeavam, cheiravam-na, procuravam roçar-lhe o corpo com a tensão de seus pênis eretos. Disputavam selvagemente entre si a oportunidade de a possuírem.
Atropelada há pouco, a cadela no cio só tinha agora a lhes oferecer o odor de sexo.

NÃO IMPOSSÍVEL



Era difícil, não impossível, e aconteceu: o irmão, retornado à casa dos pais , após 20 anos de ausência, apaixonou-se pela irmã, que deixara bebê quando partira e agora reencontrara mulher.
Era difícil,não impossível e aconteceu: a irmã, bebê quando o irmão partiu, apaixonou-se por ele agora que só veio a conhecê-lo homem.
Era difícil, não impossível, e aconteceu: casaram-se longe dali.

SONHOS RECORRENTES




- Senhor Antonio!
Dirigindo-se direto do gabinete do psiquiatra para a porta externa do consultório, não escutara o primeiro chamado da recepcionista. Acabara de ouvir, do médico a explicação- com a qual não concordara- de que seus sonhos recorrentes, nos quais sempre aparece em público sem alguma peça do vestuário, significam sua incapacidade de terminar projetos iniciados.
- Senhor Antonio, não vai marcar a próxima consulta?
Não respondeu. Decidira interromper o tratamento.

A CRUZ DO ARI



As cruzes à beira das estradas exortam-nos a orar pelos que ali morreram . Há cinco anos, ele orava por Ari, cujo nome aparecia na cruz branca, na pequena ravina,vista do ônibus que o conduzia ao trabalho.Nas férias, não fazia tal percurso e, justo nestes períodos, coisas ruins começaram a ocorrer: doenças, dificuldades financeiras, atritos familiares.”É o morto cobrando, com infortúnios, a falta das preces nestas épocas. Faça um ritual de apaziguamento no local”, explicou a amiga médium. Por isso, portando oferendas, ele está ali, pela primeira vez . Transpõe a pequena elevação entre a estrada e a ravina e descobre: não havia cruz. Parecia assim porque o restante do braço, um travessão, ficava escondido, por arbustos, de quem o via da estrada. Na verdade, era uma placa, que dizia: Sítio do Ari.

A GRANDE OPORTUNIDADE



- E aí, vai me dar aquela carona hoje?
Quando a garçonete , que cortejara sem sucesso por alguns anos, sentou-se a seu lado e, veludo na voz , fogo no olhar, fez a pergunta, ele teve a certeza de que a grande oportunidade, aguardada havia pelo menos dois meses, chegara .Tirou do bolso da calça um envelope, ao qual estava preso ,por clipe, um bilhete, deixou-o sobre a mesa e, sem dizer nada, retirou-se.
Recuperada do instante de pasmo, a garçonete leu o bilhete: “ Quando eu queria, você não queria; agora que você quer, não posso”.
Dentro do envelope, resultados de exames médicos.

O ÚLTIMO DOS VALENTÕES



Dito Maluco bateu em Braulão; Nego Oscar derrotou Dito Maluco; Severino Pancada arrebentou Nego Oscar. Revezavam-se todos os anos os valentões da cidade até que surgiu Zé Alemão. Desafiantes dali, desafiantes de fora, ninguém conseguia derrotá-lo. Garantido por aquelas mãos patas de tigre, seu reinado parecia não ter fim, até que um dia amanheceu morto, na própria cama, com a cabeça despedaçada a golpes de chave inglêsa. Fora a esposa, Dinaura, que aproveitara-lhe o sono para livrar-se de uma vida de maus tratos. Legítima defesa, determinou o delegado. Depois ninguém desafiou Dinaura, pois a valentia não desafia o desespero.

AMPLAS POSSIB ILIDADES



Como previra, o jovem cego aceitou ser seu parceiro homossexual ativo, recebendo, para isso, por mês, uma quantia pelo menos três vezes maior do que ganhava vendendo doces na praça . Não lhe disse,é claro, que o escolhera por absoluta necessidade de segurança. Afinal, decidira entregar-se aos prazeres da homossexualidade já maduro, com esposa, três filhos adolescentes e projeção social . Com garotos de programa ou gays, os riscos de extorsões e chantagens sentimentais e, em consequência, de um escândalo, seriam enormes.Um cego nunca o veria, jamais reconheceria seu carro, ou saberia para onde iriam.
O jovem, por sua vez, via tal proposta superar todos seus planos de vida. Afinal,quando decidira, meses antes, fingir-se de cego para melhor vender seus doces , não imaginara tão amplas possibilidades.

VINGANÇA



Era casada com Italo e tinha um amante, Marcos. Mas, acreditava, um não sabia do outro. Para o marido, era fiel e,para o amante, solteira. Agora, estava esperando Italo em um bar. Ele entrou e- surpresa- acompanhado de Marcos .Esperou o escândalo. Não houve. Calmamente,após os dois sentarem, o marido disse que decidira assumir a homossexualidade e que o homem a seu lado seria seu novo companheiro. Por isso, pedia o divórcio.A mulher entrou em uma espécie de convulsão, faltou-lhe ar, teve um princípio de desmaio. Os dois homens, após pedirem aos garçons que a acudissem, sairam do bar.
- Não disse que essa vingança seria melhor do que matá-la?- disse um deles
Despediram-se e cada um foi tratar da própria vida.