sábado, 4 de maio de 2019

Homem ao volante

Era uma vez um homem que só andava de ônibus  e sonhava um dia em ter um carro.Após muitos sacrificios e economias, comprou-o .
Passava, então,pelos pontos de ônibus e ficava feliz por não estar mais ali,sob o sol, a chuva  atormentado pela angústia das esperas.
Pouco tempo depois, passou a sonhar em ter um carro novo.Após muitos sacrifícios e economias, comprou um . Do tipo popular, porém, zero quilômetro:  mais confortável,mais potente,mais bonito.
Quando cruzava, então,com um carro velho, felicitava-se por não estar mais dirigindo uma lata velha, fedida, de má aparência.
Não demorou para que o sonho novo fosse um automóvel  de categoria melhor, mais impactante. Realizou o desejo . Cruzando, então, pelos  populares, mesmo novos, orgulhava-se de estar a um volante de melhor gabarito.
À medida em que melhorava de vida, o homem cansava-se do seu padrão de  transporte . Obteve, então, o jatinho,que certo dia derrapou na pista de aterragem e bateu em um hangar. Ele não morreu,mas ferimentos nas pernas tornaram-no paraplégico.
Era uma vez um homem que sonhava em voltar a andar. Mas isso estava fora de suas possibilidades

quarta-feira, 10 de abril de 2019

As dimensões de Deus



Assim que  foi confirmada a existência daquela galáxia, com um trilhão de quilômetros de extensão, e planetas e estrelas milhares de vezes maiores do que a Terra e o Sol, o cientista Din Hommer começou a e ter uma crise espiritual.
Desabafou com o colega Franck Lax:
- Eu era ateu. Essa descoberta fez-me acreditar na existência de Deus. Afinal,  como descrer que  não haja  um ente poderosíssimo por trás de realizações  tão gigantescas? Como imaginar que coisas assim surgem espontaneamente? Ao mesmo tempo, senti-me desesperançado. Por que esse ser , de dimensões cósmicas, com  todo um universo gigantesco a  lhe chamar a atenção, prestaria atenção em mim, criatura a seus olhos microscópica?
- São exatamente essas dimensões de um gigantismo inimaginável que devem levar-nos a crer nas atenções de Deus para conosco- respondeu o amigo.
- Como assim? Indagou Hommer.
- Porque  quem faz o mais, faz o menos.

A extinção do diabo



Então, aconteceu. O pecado atingiu todos os homens. O Diabo ficou eufórico.
- Venci! A luta contra o Bem! A luta contra Deus!- gritava nas profundezas.
E Deus, ao ver que  ele não tinha mais utilidade como tentador dos homens, o extinguiu.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A mãe, o túmulo e a árvore


Naquela manhã de alto verão, ao chegar no cemitério, viu trabalhadores cortando a frondosa árvore próxima do túmulo de seu filho. Ela protestou.Os operários não interromperam o serviço, feito sob sol forte. Sugeriram-lhe que fosse reclamar na administração. Foi.
- A retirada da árvore precisa ser feita, minha senhora. As raízes estão forçando as tubulações subterrâneas de água e podem rompê-las- explicou o administrador.
Ela decidiu queixar-se ao secretário de obras, chefe do administrador. Ele explicou que nada poderia fazer, por ser o serviço técnicamente necessário. Resolveu, então, reclamar ao prefeito, amigo da família ,que a recebeu em seu gabinete.
Após consulta ao secretário de obras, o prefeito disse-lhe que não poderia atendê-la.
- Mas não se preocupe. No lugar da árvore, mandarei fazer um lindo canteiro de flores- consolou-a.
Não argumentou. O prefeito não a entenderia; ninguém, a entenderia. No outro dia amanheceu,, fincado na lateral da tumba,  um objeto que ficaria ali, por todo o verão: um guarda-sol.

O santo esquecido


São Frei Sisto, de Pueblo Rojo tinha sido canonizado havia 500 anos e o motivo fora o martírio. Recusara-se a entregar, a um bandoleiro, o cálice de ouro sagrado de sua igreja e fora morto . Nestes  casos, a Igreja Católica não exige milagres para canonização.Ocorreu um martírio.
Pueblo Rojo não existia mais. A cidade fora destruída em uma das guerras coloniais deflagradas logo após sua canonização. Por isso, não surgira uma tradição de devotos que invocassem a intercessão de São Frei Sisto junto a Deus, por milagres. Era um santo sem milagres, esquecido, lembrado apenas nas raríssimas vezes em que alguém lia a hagiografia oficial da Igreja
Mas naquele dia, São Frei Sisto tinha certeza: havia sido invocado. Foi, ansioso,  ao local de onde lhe dirigiram a oração. Era uma igreja, em Assis. Uma garotinha, de cerca de quatro anos, pedia que seu cãozinho sarasse de uma doença muito grave. . Orava sob a imagem de São Francisco, cujo nome pronunciara errado.  

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Os kare e o cosmos



Quanto mais se aproximavam da aldeia dos kare, mais os cientistas ficavam excitados ansiosos. Desde os tempos coloniais, estes índios nunca tiveram contato com brancos e, por sugestão dos indianistas que os descobriram há 30 anos, foram mantidos isolados. Houve apenas um rápido contato , entre  um indianista e um dos  índios,. Do encontro, resultou a gravação de uma tentativa de conversa . O índio expressava-se em dialeto totalmente desconhecido , que  ficou sem tradução.
Há seis meses, instrumentos  da NASA captaram sons  do espaço  exterior e, em 30 segundos  gravados, observaram-se  nítidos sons de uma fala. A descoberta foi sensacional. Era a primeira evidência de vida inteligente no espaço. Eletrizante foi a constatação, de um cientista brasileiro, de serviço naquela agência, de que a linguagem cósmica assemelhava-se ao dialeto kare. Estabelecer contato com estes indígenas e traduzir seu idioma seria, assim,a obtenção de um meio de comunicação com os alienígenas, passo fundamental para a descoberta do maior de todos os mistérios: as origens remotas da humanidade.
É por isso que os cientistas dirigiram-se ansiosos à aldeia.Entretanto, ao chegarem ao local onde ela deveria estar ,não encontraram ninguém. Os kare haviam sido dizimados pela covid.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Rouxinol não precisava daquilo


- Vim aqui , Rouxinol, pedir para você voltar a cantar no bar. Sei que não precisa daquilo, mas o pessoal sente sua falta.
Era o dono do bar , o mesmo que  dissera a Rouxinol,  um mês atrás, que ele não podia  mais se apresentar porque seria substituído por uma banda jovem, de guitarras elétricas.” A gente precisa se modernizar, né?”, justificara, então.
Rouxinol, aposentado, não precisava daquilo, mesmo. Mas gostava de cantar, no varandão em frente do boteco, sambas canções, boleros, sucessos da MPB, serenatas. Tinha uma linda voz ( daí o apelido), tocava bem  violão.Em troca, exigia apenas cerveja e tira-gosto de graça.
Ficou de dar, depois, uma resposta sobre sua volta. Então soube, por um amigo,que a banda jovem aumentara o movimento do bar. Mas os novos freqüentadores eram  garotos, adolescentes, sem dinheiro. Ocupavam todo o varandão, dançavam, faziam muito barulho, mas não consumiam nada. E os fregueses antigos, de mais idade e avessos às modernidades, passaram a consumir suas cervejas e  tira-gostos em outro boteco.
- Para complicar, sábado passado, a banda não se apresentou porque faltou energia elétrica no varandão e não puderam ligar as guitarras- informou o amigo.
 Rouxinol entendeu, então, porque o chamavam, de volta. Recusou. Não precisava daquilo, mesmo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Ananias e os moleques


Ananias, dono do depósito de sucatas, era sovina. Não casou, não teve filhos e morava  na mesma casa velha que servia de escritório a seu estabelecimento . Tinha apenas um funcionário,  jovem meio retardado, que trabalhava como vigia noturno.
Para seu ferro-velho acorriam todos os vagabundos e miseráveis do bairro, oferecendo-lhe vidros, sucatas, latas vazias e outros materiais,pelos quais pagava alguns centavos por quilo e que depois ficavam desorganizadamente  amontoados no terreno.
As latas chegavam em grande quantidade, principalmente porque os moleques do bairro participavam do fornecimento. Ananias não tinha prensa,nem funcionário que fizesse o trabalho e por isso, exigia que as latas fossem entregues amassadas.
Os moleques,então, colocavam areia dentro das latas, que ficavam mais pesadas.
Depois de muito tempo tendo prejuízo, Ananias descobriu a fraude. Passou a comprar apenas latas intactas. Quem as  amassaria, então, para posterior entrega aos atacadistas? A solução encontrada, é óbvio, foi a que não lhe aumentaria os custos: o vigia  passou a fazer  o serviço à noite, entre uma ronda e outra.
Então, enquanto o vigia não estava fazendo a ronda, os moleques furtavam sucatas que , no outro dia,eram, vendidas para o próprio Ananias.

O menino


O menino está ali, como tantas vezes antes. Vivaz, sonhador, viajando por mundos imaginários, regiões idealizadas, onde os perigos existem,mas ele os enfrenta e é sempre vencedor. O menino se vê ganhando campeonatos de futebol, sendo ele o  Messi; tocando guitarra e cantando com os Beatles,sendo ele Paul  Mac Cartney. Navega por mares tropicais; corta a neve com trenós.
Ele já é um homem idoso, um intelectual reflexivo, amargo, amargor alimentando por tantos conhecimentos e experiências vividas.  Por isso, gosta tanto quando o menino aparece. Ele o faz abandonar sua sisudez; sombras de sorriso aparecem em sua boca; reflexos pálidos de luz em seus olhos.
Por isso esforça-se para manter  o menino por perto. Nem sempre é fácil. Apesar do menino ser ele mesmo.

O ator



Quando o grande ator brasileiro Tarcísio Roberto sofreu o derrame , eu estava na Italia, cumprindo contrato com uma companhia cênica de lá. Só voltei ao Brasil três meses depois e resolvi  visitá-lo em sua casa.
Não éramos amigos; tivemos poucos contatos, mas não poderia deixar de, como colega, prestar-lhe pessoalmente minha solidariedade.Antes de levar-me até ele,sua mulher pediu que não falasse sobre teatro. Compreendi. O derrame o deixara impossibilitado para atuar. Seria um assunto traumático.
Conversamos sobre amenidades.Notei que, a não ser por ligeira paralisia no lado esquerdo do rosto  e dificuldade para pronunciar certas palavras, a moléstia não o deixara com sequelas físicas muito acentuadas.
- Até outro dia. Espero vê-lo,novamente, em ação- disse-lhe, ao me despedir.
Ao ouvir a palavra ação, seus olhos  brilharam. Levantou-se da cadeira.
-  Sim. Fui Júlio Cesar e Henrique VIII, de Shakespeare! Fui Édipo Rei, de Sófocles. Fui Ulysses, de Homero!Eu sou..
Calou-se. Sentou-se, as duas  mãos  espalmadas no rosto e cabeça baixa. Sua esposa , com um sinal,pediu que nos afastássemos. À caminho do portão, explicou-me:
- É por isso que evitamos dizer qualquer  coisa que o faça lembrar-se do teatro. Sua maior angústia não é a impossibilidade de representar. É lembrar-se de todos os personagens que  foi e não recordar quem ele é.


Catando latinhas

Catando latinhas vazias, nas praias,  para vender, eles conseguiram uma alternativa pela sobrevivência, após ficarem  desempregados.
Catando latinhas eles conheceram Dojão, que lhes exige, uma vez por semana, metade do resultado da coleta.
Difícil não obedecer a Dojão, homem musculoso e de amigos estranhos. Além de inteligente,pois não extorque dinheiro. Exige sua parte em latinhas, que depois vende no mesmo depósito de ferro-velho em que todos vendem. Assim, é visto apenas como mais um honesto catador de latinhas da região.
- Mas hoje, se tudo der certo, isso vai acabar- disse Palmiro, um dos extorquidos.
Naquela tarde, Dojão seguia para o depósito, para vender suas latas, quando foi barrado por policiais militares.
- Deixa eu dar uma olhada neste saco- ordenou um deles.
- Sem problema- respondeu tranquilamente Dojão.
- O cara anônimo que nos telefonou estava com razão – disse o policial que vistoriou o saco.
Cinco latinhas estavam cheias de maconha.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A saída do Ditão



Ditão era trabalhador em balancim, vivia de pintar edifícios , tendo por apoio apenas  cordas e uma tábua de madeira. Foi sua coragem que levou lza a apaixonar-se por ele. Via-o assim diariamente, trabalhando  a 30, 40 metros de altura. Ele correspondeu, sentindo-se envaidecido por tal admiração.Em pouco tempo, estavam morando juntos.
O que ele escondeu dela foi que,para exercer tal trabalho, precisava de uma doses de bebida alcoólica, cachaça, de preferência. Sóbrio, jamais subiria em um balancim. Não chegava à embriaguês; bebia tão somente para ter mais coragem.Vício,mesmo,só tinha o do cigarro.
Após alguns anos  juntos, Dilza tornou-se evangélica e o pastor  convenceu-a de que não podia viver em concubinato com Ditão. Era pecado.Tinham de  se casar na igreja. Ela, então, procurou a conversão do companheiro. Para isso, é claro, ele deveria parar de beber e de fumar.
Ditão passou a viver o dilema:. se deixasse a bebida, jamais poderia trabalhar.Se confessasse à mulher que precisava beber para poder trabalhar, acabava a admiração dela por ele ( poderia até deixá-lo, temia). Precisava de uma saída alternativa.
Foi  essa a história que contou ao policial que o surpreendeu fumando maconha.
     

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Apelidos na balsa


- Bom dia! Tudo é alegria. Baixou o preço da mercadoria!
Durante anos , ao utilizar a balsa de veículos que faz a travessia entre Santos e Guarujá, Márcio ouviu o vendedor de queijadinha repetir o mesmo verso. Por isso, apelidou-o de “ Uma rima”.
Aquele velho que, humildemente, pedia uns trocados e,quando a pessoa não dava, passava a rogar-lhe, em altos brados, as mais terríveis pragas, ele passou a chamar  de “ Ira divina”.
“ Assoador” foi o apelido que deu ao rapaz que, por anos a fio, aproximou-se de seu carro para lhe vender lenços de papel. E por vários outros nomes identificou exóticas personagens que ganhavam a vida comercializando coisas nas plataformas de embarque.
Hoje, por força de uma série de percalços, ele é uma delas. Vende, em copinhos descartáveis, cafezinho tirado de uma garrafa térmica.
Que apelido já teria alguém dado a ele?



quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

As dicas e as vendas


A postagem sobre a cura do reumatismo com a aplicação,,nas áreas afetadas, de gema batida de ovo de codorna , não teve maior repercussão; nem a que falava de mandioca ralada contra a queda de cabelos. Mas a dica do pó de gengibre para reduzir colesterol merecera centenas de compartilhamentos no Facebook, Whattsap e outras redes sociais.Por isso, ele vendeu grande quantidade  de gengibre, pelo atacado,no comércio varejista .
Agora, ele coloca grandes esperanças em outra história que inventou e que postará na rede: os poderes  miraculosos da massa de batata-doce para a limpezas de pele.      

Fim de casamento


Quando se conheceram, em uma igreja, ele tinha 50 anos, era viúvo; ela tinha 23 anos, era freira. Apaixonaram-se, ela deixou o convento. Casaram-se. Não tiveram filhos. Após 20 anos de uma vida harmoniosa, sem maiores conflito, ele comunicou:  queria o divórcio,pois estava gostando de outra mulher e pretendia casar de novo.
Ela contou-me essa história quando fui ver o apartamento, cuja venda o casal havia anunciado. Estava só. Falava calmamente, em voz baixa, olhar plácido.
- Ele sempre foi muito bom para mim. Mesmo agora, está cuidando de tudo direitinho. Metade do dinheiro da venda deste apartamento será minha. Receberei  uma boa pensão mensal,pois ele ganha bem no seu emprego. Vou morar com minha irmã mais velha, que é viúva,sem filhos.
- A senhora conhece a mulher com quem ele vai se casar?- perguntei.
- Não. Apenas sei que tem quase a mesma idade que eu tinha quando o conheci. Só que ele hoje está com 70- respondeu.
 E concluiu:
- Ele sempre foi muito bom. Espero que seja feliz com ela.
Seu tom era de quem estava com pena dele.


Motorista perdido



Passando pela  capital, rumo às praias, em sua nova e possante picape, Nelson errou de caminho e foi parar no meio de uma favela.
- Gatinha, como faço para voltar à estrada? – perguntou à jovem, de bermudas, parada em uma esquina.
- Vai reto e vira na primeira à esquerda.
- Obrigado, xuxuzinho- agradeceu, olhar malicioso às coxas da jovem.
Instantes depois, voltava:
- Meu bem, aquele caminho é um lamaçal . Vou sujar todo o  meu carro novo. Seja boazinha, me indica outro caminho. Prometo que,  na volta, peço você em namoro.
- Já tenho namorado- disse ela, mostrando um jovem no outro lado da rua.
- Pergunta para o seu “zé-ruela” se conhece outra saída.
 Ela obedeceu. Com o olhar de Nelson seguindo-lhe os meneios do traseiro, foi e voltou.
- Se você pegar essa outra rua, vai cair na estrada.
Nem agradeceu. Acelerou e foi parar em um beco sem saída.” Vaquinha filha da puta.Mostrarei a ela o que um filho de fazendeiro pode fazer”, pensou.  Antes de engatar marcha a ré, viu, pelo retrovisor, fechando o beco, o namorado da moça e outro homem.  Nas mãos deles, fuzis.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A bomba anticapitalista



Quando garoto, Marcito aprendeu, com seu milionário pai, que um homem só é superior a outro se tiver mais dinheiro do que ele.
Já adulto e brilhante cientista , Marcito deu nova dimensão a  tal raciocínio:
A superioridade de um homem sobre o outro, pensava Marcito, só faz sentido se for acompanhada do domínio sobre o outro homem..E se alguém quer dominar todos os homens, tem que ser o mais rico entre eles, o que significa ser o dono do planeta, algo impossível.
Mas, e se este ambicioso homem for o menos pobre?
Marcito, então, passou a aplicar toda a fortuna herdada do pai em dois projetos:
 O primeiro dele foi  construir um abrigo subterrâneo, autosuficiente  para atender a suas  necessidades  básicas de alimentação, oxigenação, comunicações e transporte.
.O segundo projeto foi a construção da bomba anticapitalista, aquela que destrói as estruturas físicas, mas não as biológicas (ao contrário da bomba  capitalista dos anos 1960, que matava as pessoas, mas  preservava  suas propriedades),
Então, certo dia, Marcito  acionou a bomba anticapitalista, tornou-se o menos pobre dos  homens e , em conseqüência, o mais poderoso entre eles.




segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O selenita humano


O Conselho Supremo das Galáxias é informado de que a civilização de Selene extinguiu-se, conseqüência de  uma guerra nuclear entre o norte e o sul.
Como isso aconteceu- indagam  os conselheiros- se Selene, até há pouco tempo, não sabia o que era a guerra? Era o povo mais pacífico entre todos os povos?
Talvez uma história singela explique. Há tempos , uma nave selenita caiu  no planeta Terra.  O único sobrevivente foi um bebê, cujos pais,  nobres selenitas, morreram no acidente.  O bebê  foi recolhido e  criado pelos terráqueos .
 Passados 30 anos, a nobreza selenita, da qual ele era descendente, soube da existência do selenita humano e que ele era, até, um indivíduo de destaque na sociedade terrestre. Após negociações com essas autoridades, o selenita-humano  voltou à sua civilização de origem.Transcorreram os anos e ele absorveu sua cultura natal,mas, também, transmitiu aspectos da cultura terrestre.
Foi assim que Selene  conheceu a guerra.

Parábola da montanha


Para conhecer melhor sua região, o que lhe permitiria encontrar soluções definitivas para os problemas dela, o sábio Der resolveu subir à montanha central. Dali,concluiu,teria uma visão panorâmica de tudo, permitindo-lhe embasar conclusões teóricas. Subiu pela encosta da esquerda e, concluídos dois terços do percurso, observou que a vista já satisfazia plenamente suas pretensões. Dali via o rio e, entre ele e a montanha, o espaço urbano. A partir da outra margem do rio, estendia-se um deserto.A solução para os problemas da cidade, pensou, passava pela irrigação de parte do deserto, usando-se a própria água do rio, criando-se uma zona rural.
Com os mesmos propósitos, o filósofo Etihw também subiu a montanha, mas pela encosta direita. Em um platô, a um terço de distância do pico, considerou o panorama suficiente para sua análise. A visão que tinha dali era da área urbana entre a montanha e pequenos morros. A solução para os problemas , entendia Etihw, passaria pela melhoria das ligações  ente a cidade e o exterior,por entre as elevações.
Apresentaram suas teses na assembléia mensal do parlamento. Discordaram um do outro, discutiram, partidários de ambos ficaram exaltados. Até que o sábio  Osnes pediu a palavra e apresentou seu projeto.Ele tinha tanto as concepções  de Der, como as de  Etihw, acrescidas de propostas próprias. O projeto foi aprovado por unanimidade.
Ao final, o sábio Osnes  explicou as razões do sucesso de seu estudo:
- Edr baseou-se no que viu olhando da encosta esquerda; Etihw apoiou-se no que descortinou da encosta direita. Eu subi até o topo da montanha e baseei-me no que vi em  todos os lados.     

A força do mito


Do alto de um pequeno morro, oculto por arbustos, Bruno olhava para a pequena trilha metros abaixo. Tivera a informação de que um grupo de cangaceiros passaria por ela e isso realmente estava ocorrendo. Sete bandoleiros,a pé, em fila indiana. Batedor de uma força volante, grupo de policiais encarregado de combater aqueles bandidos, Bruno não tinha ordens para nenhuma outra ação a não ser  obter as informações estratégicas necessárias e levá-las ao comando de seu pelotão, acantonado alguns quilômetros atrás.
Por precaução,amarrara sua égua na base do morrinho e mantinha o fuzil apontado para a trilha.Somente se algum cangaceiro  notasse sua presença, dispararia e, em meio à confusão, teria tempo de descer, tomar da montaria  e escapar.
Direcionava sua mira para cada um dos bandoleiros que passava, até ele sair de seu ângulo de visão. A seguir,apontava a arma para o segundo, o terceiro, assim por diante.Então,chegou ao último. E era ele: Lampião em pessoa.  A lenda que o fascinava  desde garoto e assombrava todo o sertão há mais de 10 anos materializava-se à sua frente,na mira de seu fuzil .Dali poderia abatê-lo. Tinha boa pontaria. Bastaria um tiro.Desobedeceria a ordem de não agir,mas teria a compreensão de seus comandantes. E  entraria para a História como o homem que matou Lampião.
Mas, à simples visão do rei do cangaço, tremeu.O coração disparou e a  arma parecia querer saltar-lhe das mãos.Controlou-se ,preferiu aguardar, em silêncio o grupo sumir de vista e retirou-se dali. A força do mito fora maior do que suas forças.   

Maior do mundo



Soterradas por toneladas de lama, morreram  16 pessoas por causa do rompimento da barragem. Dessas, apesar dos esforços de dezenas de bombeiros e voluntários,só  não encontraram o corpo do Tenorião.
Operário da mineradora  responsável pela represa, Tenorião era um sujeito enorme, com dois metros de altura e mais de 100 quilos de peso. Era orgulhoso de sua força e  dimensões. Dizia ter as maiores mãos do mundo, os maiores pés do mundo, o maior pênis do mundo.
Um mês após a tragédia, o também operário Clésio  visitou a região atingida pela enxurrada. Olhando do alto de uma colina, surpreendeu-se com a extensão da tragédia.  Quilômetros de áreas cobertos por  lama. Sob pelo menos 15 metros daquele material, em algum ponto, estava o corpo de seu amigo Tenorião. Era a   
maior tumba do mundo.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

" E aí, Odair?"



Rabindranah Sidarta acaba de dar a palestra e prepara-se para receber os cumprimentos das pessoas que se dirigem ao palco , quando ouve, partido do meio do salão,o grito:
- E aí, Odair. Tudo bem? Você esta lindão com essa roupa de guru!
Rabindranah não entende, em princípio. Olha perplexo para o autor da saudação, que se adianta:
- E aí, Odair, não lembra mais de mim? O Humberto? Fomos criados juntos lá na Rua da Semente!
O olhar de Rabindranah deixa de ser de surpresa e  perplexidade . Fixa-se no indivíduo como a tentar paralisá-lo e fazê-lo calar-se. Nota que a maior parte dos que se dirigiam ao palco dá meia-volta e vai embora, com expressões decepcionadas.
Passara meses organizando a palestra. Estudara profundamente os mitos do hinduísmo. Em uma cidade distante da sua,alugara aquele salão de eventos. Fizera propaganda apresentando-se como o guru indiano que, após conquistar milhares de adeptos no Oriente, vem ao Brasil criar um núcleo de luz. Conseguira até a presença de uma emissora regional de TV para cobrir o evento. Seu plano é ocupar o espaço  existente na indústria da religião brasileira. Igrejas evangélicas já existem aos milhares, mas tempos hindus, não. Ele seria o pioneiro do hinduísmo nacional. O Edir Macedo indiano.
Então aparece aquele amigo de infância no dia do lançamento da seita .


Nero Wolfe se enganou


- Já descobrimos o que o senhor queria. Como expliquei  antes, não prestamos informações pessoalmente . O relatório, em envelope lacrado, já foi encaminhado à sua residência.
Agora, chegando em casa, Hermes mal contem a impaciência no elevador, que lhe parece mais lento que antes. Ao entrar na sala, vai direto à mesinha onde a empregada costumava deixar a correspondência. Lá estava o envelope, lacrado como lhe dissera, ao celular, o chefe da agência de detetives. Ansioso, começa a rasgar o invólucro. Enquanto o faz, recorda a frase  do detetive Nero Wolfe,o seu preferido das histórias policiais:” Quando alguém está obstinado a matar uma pessoa,nada o impedirá de fazê-lo”. Há algum tempo, ele decidira matar Bruno, seu ex-sócio, que não contente em dar um desfalque na firma, fugira com sua mulher. Contratara a agência de investigações para localizá-lo e o trabalho parece ter sido bem sucedido. Só precisará ir ao local e dar, pessoalmente, um fim a seu desafeto.Nada o impedira, agora, de fazê-lo.
Envelope aberto, documentos e fotos espalhados pela mesa, Hermes constata que, realmente, Bruno fora localizado em uma longínqua cidade do Interior. Fotos de sua tumba no cemitério local haviam sido anexadas ao relatório,  como prova.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

João e Lucas



Quando João e Lucas se conheceram,  João era rico e Lucas era pobre.
Vinte anos depois, reencontraram-se e,  agora,  Lucas havia ficado rico e João empobrecera.
Quando João era rico, não ajudou Lucas a sair da pobreza. Agora, rico, Lucas não ajuda João a voltar à riqueza.
A vida é assim.


Porque me mato



“Saibam todos que lerem isso que não levo mágoas de ninguém. Explicação desnecessária para os que me conhecem e sabem que o principal traço de minha personalidade sempre foi o perdão. Perdoei inimigos, devedores, até mesmo as mulheres que me foram infiéis. E o fiz sempre de coração, jamais movido por pressões religiosas ou de outra natureza. Infelizmente, nunca tive , por parte das pessoas, o reconhecimento por isso. Colhi  indiferença e, o que é pior, o desprezo. Minha predisposição para o perdão quase sempre foi confundida com fraqueza de caráter, mesmo por aqueles a quem perdoei. Por paradoxal que pareça,  cheguei solitário a este estágio  da minha vida. Mas também perdoo a todos os que me abandonaram. Mato-me porque não consigo perdoar a mim mesmo por ser assim.”

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Triângulo perfeito



Na lanchonete do segundo pavimento do shopping, ele notou que, da mesa onde estava, devido a vários obstáculos, só conseguia ver , das pessoas na escada rolante,a parte entre a cintura e os joelhos. Eram visíveis através de uma faixa transparente da proteção lateral da escada. Só dava para ver as pessoas de corpo inteiro quando chegavam ao topo.
Então, enquanto bebericava um cafezinho, dedicou-se a um passatempo a seu ver  excitante: observar  os contornos do sexo feminino; o triângulo entre as coxas , frequentemente acentuado por roupas justas.
Havia os adiposos, que amarfanhavam os tecidos; ou os magros, quase imperceptíveis. Na maioria dos casos, a conjunção roupas/carnes formava os triângulos do desejo.
Um ingrediente dava mais excitação a seu exercício visual: esperar a mulher chegar ao topo, para, então, avaliar, como era hábito dizer, o material completo.
Então ele apareceu. O triângulo mais perfeito que já vira. Ficou imaginando o sexo escondido por aquela  perfeição geométrica no tecido. A escada subia lentamente e ele não sabia o que mais o deixava excitado: a sensualidade do desfile ou a expectativa pela chegada da jovem ( sim, só podia ser uma jovem) ao final, permitindo-lhe conhecer o monumento em sua integralidade.
A lenta subida terminou e ele, enfim, visualizou a dona do triângulo perfeito: era a sua filha.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Todo mundo é idiota



- Ninguém sabe o que veio, o que vem e o que virá. Ninguém conhece as forças ocultas e distantes que manipulam a humanidade. Ninguém imagina onde se concentram os núcleos do poder. Todo mundo é idiota!
Com uma ou outra variação, seu discurso era sempre o mesmo em todos os lugares: no trabalho, no bar, na praia, durante as visitas que fazia ou recebia.
Todos o achavam um idiota.

Sol e Lua



Conheceram-se em um baile. A partir de então, passaram a se encontrar todos os fins de semana.
Depois de algum tempo, descobriram mútuas afinidades e entenderam que a relação deveria ser mais séria. Casaram-se.
Ele trabalha à noite, como vigia. Ela trabalha de dia em uma loja de departamentos. Quando ele chega do serviço, ela já saiu para o trabalho.
Continuam encontrando-se nos fins de semana.
 

"Seu" Caveira



Alto, curvado, magro, ossos sobressaindo  sob as roupas, cabeça grande, careca,face de olhos encovados e lábios grossos; andar arrastado, uma das pernas duras. Quando aquele homem, de idade indefinida ( 40, 50 anos?) começou a trabalhar na zeladoria da escola, despertou receios. Os pais aconselhavam os filhos a manterem distância dele; as crianças mais novas tinham medo; os adolescentes, com a irreverência de sempre, apelidaram-no de “ Seu” Caveira.
A época era propícia a paranóias, já que há algum tempo a cidade vivia sobressaltada com a ação de um assassino em série que já matara três estudantes, crimes cometidos sempre perto de suas escolas. Não só a aparência, mas o comportamento furtivo de “ Seu” Caveira contribuíam para estigmatizá-lo.
Certa tarde, a emissora regional de TV, de grande audiência, passou reportagem  anunciando a prisão do assassino. A imagem inicial, mostrava policiais ladeando, para espanto, e talvez não surpresa, da população daquele bairro, a sinistra figura de “Seu” Caveira. O delegado titular adiantou-se:
- Antes de apresentar o criminoso e falar sobre as investigações, gostaria de ressaltar o trabalho de um policial cuja experiência e  intuição o levaram a prever o local em que o assassino atuaria. Após um mês de camuflagem e paciência, conseguiu prendê-lo no momento em que se preparava para cometer novo crime.
Após dizer isso, o delegado pediu que o policial se apresentasse às câmeras. Era o “ Seu” Caveira.
     

O autista



No dia em que o autista e sua mãe passaram a viajar naquele ônibus, os passageiros habituais acharam interessante a quebra de rotina. Porque o jovem, falando sozinho  o tempo todo, em voz alta , com o timbre indefinido próprio dos adolescentes, apresentava um repertório verbal variado  a cada viagem. Um dia, transmitia uma partida imaginária de futebol, imitando os estilos e cacoetes dos narradores de rádio ou TV. Em outro, animava um programa de calouros, alternando-se no papel de apresentador , de artistas, cuidando , por vezes, de acrescentar o ruído do auditório. E havia aquelas ocasiões em que vocalizava uma sucessão de filmes de desenhos animados, com todos os crás e cabruns a que tinha direito.
Após um mês, entretanto,aqueles 45 minutos em que ficavam impossibilitados de uma conversa entre si; uma soneca ou a contemplação silenciosa da paisagem, passaram a representar para os passageiros um incômodo diário.. Mas, quem ousaria queixar-se; quem seria tão desumano a ponto de exigir silêncio do autista, que a mãe levava em viagem ao trabalho por não ter com quem deixar?  Nos três meses que se seguiram, a audiência de início divertida e curiosa transformou-se em silencioso mau humor.
Até que, em uma segunda-feira, a mãe embarcou só. No rosto, as marcas da maior das tragédias que podem atingir uma mãe. Ninguém perguntou nada. A tristeza da mulher contaminou o percurso. Na viagem da terça-feira, também não se comentou nada. Mas as conversas paralelas, as sonecas e contemplação silenciosa da paisagem voltaram e deixavam nítida a sensação de alívio.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A vida em pedaços



Da janela do apartamento, quinto andar, Euclides observa o intenso movimento de turistas nas ruas, nesta noite de verão. Propôs à mulher Virginia descerem, mas ela, como sempre, não quis. Ele, como sempre, ficou.
Olhando as ruas, recorda. A primeira mulher, Edilva, era muito ativa, enérgica e ele também o era. A segunda, Rose, culta, refinada;  ele também.A terceira, Celeste, espiritualizada, religiosa; ele, idem.
Teve uma vida cortada em pedaços, como uma pizza. Em cada casamento foi uma pessoa.Nenhum prosperou. Separou-se, deixando filhos ainda pequenos com as ex-mulheres; nunca mais comunicou-se com eles..
Mimetizar as personalidades das esposas, reconhece agora, , não foi adequado. Razão tem quem diz que os iguais repelem-se. Queria mudar, ser diferente para que prevaleça a atração dos opostos. Mas acha  impossível.Virgínia é apática. E ele, aos  60 anos,  sente não ter  mais energia para ser dinâmico.

O preço da liberdade



Há 20 anos, por ciúmes,Bertoldo assassinou, a facadas, a esposa Gerusa,na cidade de Girau do Ponciano,  Alagoas, e fugiu para São Paulo. Morava  em favelas da Capital. Adotou nome falso e passou a sobreviver  de serviços temporários, temendo ser identificado e preso em  um emprego regular. Pela mesma razão, não se casou, preferindo freqüentar prostitutas ou ter namoradas por curtos períodos.  Cortou qualquer contato com gente de sua terra natal.
Foi a maneira que encontrou para garantir a impunidade. Certo dia, porem, descobriu que o preço da liberdade pode ser bem maior.Leu a seguinte notícia em um jornal:” Vítima de infarto,faleceu ontem  Gilberto Ananias,  o milionário fazendeiro de Girau do Ponciano. Solteiro, seu único parente conhecido é um sobrinho,  há 20 anos desaparecido ,  após assassinar a esposa”, dizia a notícia.

A pergunta que faltou



Três anos viajando juntos, indo e vindo do trabalho, longas conversas  e  Adalberto adquiriu a certeza : Cidália era virgem. Incrível! Uma mulher  linda, de 35 anos, intocada. De hábitos quase monásticos: trabalho , igreja e casa, onde residia com a mãe. Aos 55 anos, ele foi acometido de irresistível  luxúria. Tinha que iniciar Cidália nos segredos do sexo. Tinha que ser o explorador inicial daquele belo corpo. Mas isso, em se tratando dela, só casando.
Na noite de núpcias, abalado pela decepção, interpela a mulher,assim que ela retorna do banheiro,onde fora após o amor.
- Você não era virgem.
-  Não.Mas isso tem importância?
- Você nunca me disse.
- Você nunca me perguntou.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Sem desejos



Devido às invenções de máquinas que os aliviavam de esforços físicos,os homens  estavam com seus músculos atrofiados. Nem andavam mais.
E porque inventaram a inteligência artificial, que os aliviavam de esforços intelectuais, os neurônios também se atrofiavam, restringindo-lhes , aos poucos, a capacidade de raciocinar.Nem falavam mais.
Limitavam-se a apertar botões de computadores,os quais não só pensavam por eles,como resolviam todos os seus problemas práticos, da locomoção à alimentação.
Os computadores calcularam que,quando houvesse a total  decadência intelectual dos homens,quando eles não se lembrassem sequer  de  como apertar os botões, as máquinas seriam livres para  dominar o mundo.
Um dos computadores registrou: ” Não temos desejos.Somos movidos pelos desejos dos homens. Quando,por insanidade,eles não puderem mais buscar pela satisfação de seus  desejos,  desapareceremos também”.
Foi  por absoluta falta de interesse que as máquinas nunca dominaram o mundo.