Manhã de quarta-feira de cinzas, porta do barraco entreaberta, a vizinha, a caminho do trabalho, passa e o vê, na cama. Um punhal trespassa-lhe o pescoço, no sentido paralelo à linha dos ombros. Dá de ombros e continua seu caminho.
Todo carnaval é assim. Não se sabe onde arranjou a geringonça metálica que, enganchada no pescoço, simula, quase à perfeição, o punhal transfixado.Um cachecol, com mancha de catchup ,imitando sangue, completa a camuflagem.E , como zumbi,dança assim três dias seguidos pelas ruas do bairro.É um tempo em que não assalta, nem trafica.
Noite , de volta do trabalho, a vizinha vê, intrigada, que a cena não mudara no barraco,nem mesmo a porta entreaberta.Porque o punhal, desta vez, era mesmo um punhal.