sexta-feira, 18 de abril de 2008

PAPÉIS TROCADOS



“Aos dezoito anos, fugi de casa com um namorado que, por ser negro, minha família, rica e tradicional,não aceitava. Tivemos uma filha e nos separamos dois anos depois.Meu segundo companheiro, viúvo, tinha uma filha.Vivemos juntos por um ano, até que ele morreu.Desesperada, com duas crianças pequenas para criar, voltei à casa de meus pais, que aceitaram-me de volta, nas seguintes condições: diríamos que minha filha legítima era a branca, a negra era adotada. E assim foi. Mantive o segredo por décadas e só agora, ao sentir aproximar-se o fim, decidi redigir este texto,cujo teor não poderá ser revelado antes de minha morte . ”
Feita a leitura , pelo velho advogado da família, as duas irmãs olharam-se impassíveis.
- É só isso? Indagou a branca.
- Podemos ir embora agora?, perguntou a negra.
Beiravam os 70 anos . Vidas sem espaços para traumas.

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